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Relações Laborais em Contexto Pandémico, através da Lusango e da EBA´s Sociologia – 2020

Este estudo online tinha como objetivo aferir as relações laborais durante o contexto pandémico, particularmente num período temporal em que os trabalhadores e as empresas tiveram que se adaptar a todo um novo conjunto de regras e de atitudes.

A particularidade deste questionário foi a utilização de situações laborais baseadas em histórias reais, colocando o inquirido perante a escolha da que seria a atitude mais correta.

A análise foi bastante prolífera em conclusões, pelo que evidenciamos as seguintes:

- Existe uma maior compreensão para com as empresas em casos em que a sua viabilidade está, de facto, posta em causa e atinge, por inerência, as pessoas que lá trabalham. Acontece, por exemplo, em pedidos aos trabalhadores para que adiem as suas férias (sendo repostas mais tarde). Note-se, aliás, que estamos perante pedidos (negociados) e não perante exigências;

- Perceção de que a perda de atividade por parte das empresas levou ao aumento dos despedimentos e, subsequentemente, tal como aconteceu noutros contextos, à degradação das condições de trabalho;

- Compreensão de que uma estratégia de comunicação e gestão eficaz assenta na negociação entre as partes. Contudo, a pandemia contribuiu (servindo, algumas vezes, de desculpa) para menores graus de negociação e para a diminuição do poder reivindicativo dos trabalhadores;

- Embora os trabalhadores sem vínculo (trabalhadores independentes) ou com vínculos mais precários (contratos a prazo) sejam os mais afetados de forma imediata (sendo, facilmente, “descartados” pelas empresas), a crise laboral assume contornos de dominó atingindo, gradualmente, todos os outros. O rendimento do fator trabalho, salvo algumas exceções, diminuiu e o espectro das falências e dos despedimentos é transversal. Mais uma vez, as políticas sociais implementadas foram importantes, mas têm sido apenas “remendos” e não resolvem problemas estruturais de base. A precaridade assume-se como a tendência sendo invisível e ténue a linha que a separa da pobreza. A crise não só a reforçou como também abrangeu uma substancial camada de trabalhadores para quem ela nunca se afiguraria como uma realidade, ou que sempre se sentiram como integrantes da classe abstrata que constitui a classe média (profissionais liberais, por exemplo);

- A posição de um trabalhador na sua entidade patronal (cargo que ocupa, salário, tipo de contrato) condiciona a sua capacidade de resposta e visão perante os problemas. Por muito, por pouco, por menos que seja, o trabalho é percecionado enquanto a garantia (nem sempre real) de sobrevivência individual e familiar. O trabalhador enfrenta a verdade inquestionável de que é o elo mais frágil, que pode ser substituído e de que o panorama laboral é pantanoso. Logo, embora exista a noção de que todas as atitudes que o coloquem a “enfrentar” a entidade patronal (muitas vezes, por direitos básicos) são salutares, a verdade é que está sempre inerente o risco que constitui qualquer tipo de reivindicação. A pandemia não só o agravou, como também diminuiu a capacidade de respostas coletivas por parte dos trabalhadores. Pior: embora o trabalhador saiba que a sua situação é similar à de milhões de outros, o seu “drama” humano é sempre sentido na individualidade;

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